
Neste ano de 2015, a humanidade comemorou setenta anos do término da Segunda Grande Guerra Mundial, que se deu no dia 2 de setembro de 1945, época da assinatura da rendição do Japão aos Estados Unidos.
A ação do homem com seu orgulho, poderio e violência, através dos milênios, trouxe o caos para o planeta. A sua influência agora deve ser em busca da paz, por meio da educação dos sentimentos, que é o desenvolvimento dos valores morais.
Hoje, com a evolução intelectual e tecnológica que desfrutamos, entendemos que a paz deve ser conseguida, individualmente, por intermédio de nossa atitude e de nosso comportamento em relação ao nosso próximo. Seremos o que fizermos de nossas vidas, de acordo com a nossa educação moral.
A educação é o fator determinante na transformação para a evolução da criatura humana. Educação, que, em realidade, é autoeducação, porque educar significa “tirar de dentro de nós”; educere, “evolver de dentro para fora”. É necessário, para isso, lutar contra os nossos maus hábitos enraizados em nossa personalidade (máscara, do latim persona) e substitui-los por hábitos nobres que nos levam à formação do bom caráter. A palavra caráter, etimologicamente, do grego charactér, quer dizer: gravação, impressão, marca; portanto, caráter constitui a nossa marca, a gravação que fazemos em nosso consciente por meio das experiências análogas repetidas. A educação é a aquisição de hábitos que formam o caráter.
Demóstenes, que ficou conhecido por sua perseverança em educar a fala, pois tinha graves deficiências vocais, treinou na praia com pedrinhas na boca, até tornar-se o maior orador grego. Fez escola e criou discípulos.
Licurgo, seu discípulo, por exemplo, tornou-se um grande orador ateniense. Certa feita, foi convidado a dar uma palestra cujo tema era a educação.
Para surpresa de seus anfitriões, ele solicitou um prazo de três meses, o que nunca havia feito, devido à sua capacidade intelectual e mnemônica. Quando chegou o dia aprazado, apresentou-se perante o numeroso público no anfiteatro de Atenas, que aguardava com grande excitação e curiosidade a palavra de tão importante tribuno. Licurgo, estático, mandou que abrissem uma das quatro caixas que estavam próximas a ele. Foi solto um cão. A seguir, autorizou a abertura de outra caixa e dela saiu uma lebre. O cão, que já estava correndo pela arena, avançou sobre a lebre e a despedaçou, em um ato de selvageria estarrecedora. O público observava horrorizado aquele espetáculo chocante. Soltou, em seguida, um segundo cachorro e outra lebre das caixas restantes. O cão se encontrou com a lebre e pôs-se a lambê-la e a brincar carinhosamente, correndo de um lado para o outro, e afagavam-se mutuamente toda a vez que se encontravam.
Após essa cena inusitada, que surpreendeu o auditório, Licurgo começou a falar: “Eis aí o que é educação. Esses cães são da mesma idade e raça. Foram alimentados em condições iguais. A diferença entre eles é que um foi educado, e o outro, não” (1).
O insigne mestre Allan Kardec asseverou: “A educação é o conjunto de hábitos adquiridos, não a educação intelectual, mas a educação moral. Não nos referimos, porém à educação moral pelos livros e sim à que incute hábitos” (2).
Se a educação aos cães, que agem por instinto, tem efeito positivo, imaginemos o ser humano, dotado de razão, como será beneficiado!
A violência destruidora dos espíritos imperfeitos, mergulhados no mal, atacando em várias ocasiões a população indefesa, como em 11 de setembro de 2001, nos EUA, e agora, em 13 de novembro de 2015, em Paris, com ataques em série, mostram a falta que faz a educação moral.
A educação moral, à que incute bons hábitos, é extremamente necessária para reformar os caracteres e reprimir os maus pendores. Nascemos na posse de nossas construções íntimas. A Neurociência proclama que “há muito tempo não se acredita que o cérebro nasça vazio como a famosa tábula rasa, e vá sendo montado aos pouquinhos, de acordo com os estímulos que recebe” (3). Essas construções psíquicas inatas precisam ser observadas com carinho, esforço e dedicação dos pais.
Ao reeencarnar, por mais endurecido no mal seja o Espírito, a educação moral bem direcionada e sedimentada pelos bons exemplos dos pais, pode abrandar-lhe os caracteres, fazendo com que se torne uma pessoa melhor ao chegar à idade adulta, e, por meio de sucessivas experiências reencarnatórias, tornar-se, um dia, construtor da paz.
Porém, haja o que houver em nosso planeta, confiemos em Deus, confiemos em Jesus, o Cristo de Deus, que afirmou: Sem mim nada podeis fazer (4).
Muita paz!
Notas bibliográficas:
1 – Os Morfeus do Sonho – Itair Rodrigues Ferreira – 2ª ed., pág. 47.
2 – O Livro dos Espíritos – Allan Kardec – Parte 3ª, capítulo III.
3 – O Cérebro Nosso de Cada Dia – Dr.ª Suzana Herculano-Houzel.
4 – Bíblia Sagrada – João Ferreira de Almeida – Jo. 15,5.