
Jesus, o divino modelo, como definiu Allan Kardec, (1) ensinou-nos a orar, como uma necessidade básica do espírito, (2) garantindo: Tudo o que pedirdes em oração, crendo, recebereis (3). Ele foi ainda mais enfático, quando afirmou: Pedi e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei e abrir-se-vos-á. Pois todo o que pede recebe; o que busca, encontra, e a quem bate, abrir-se-lhe-á (4).
Allan Kardec, o insigne codificador do Espiritismo, perguntou aos Espíritos Superiores, de forma clara, como sempre o fazia:
— A prece torna melhor o homem?
E recebeu a resposta afirmativa:
— Sim, porquanto aquele que ora com fervor e confiança se faz mais forte contra as tentações do mal e Deus lhe envia bons Espíritos para assisti-lo. É este um socorro que jamais se lhe recusa, quando pedido com sinceridade (5).
Conhecendo o valor da oração, perguntamos: por que ficamos, quase sempre, vacilantes, recusando as ocorrências da vida?
É porque não sabemos orar. Aprendemos com Jesus o Pai Nosso, a oração dominical, que foi proferida por Seus divinos lábios, mas não queremos que seja daquela forma: Venha o teu reino, faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu.
Quando oramos, mandamos a resposta daquilo que queremos, sem nos subjugarmos à vontade de Deus. É a nossa vontade que conta. Afinal, nós é que estamos pedindo o de que necessitamos.
As súplicas justas são atendidas mais vezes do que supondes. Julgais, de ordinário, que Deus não vos ouviu, porque não fez a vosso favor um milagre, enquanto que vos assiste por meios tão naturais que vos parece obra do acaso ou da força das coisas. Muitas vezes também, as mais das vezes mesmo, ele vos sugere a ideia que vos fará sair da dificuldade pelo vosso próprio esforço (6).
O Espírito, que se denominou André Luiz (7), narra em seu primeiro livro Nosso Lar os oito anos vividos no Umbral, a região espiritual onde ele despertara, após a desencarnação.
André Luiz, no auge do desespero, não sabia a quem recorrer. Então, começou a recordar que deveria existir um Deus. Essa ideia o confortou. Ele, que detestara as religiões no mundo, experimentava agora a necessidade de conforto místico. Médico extremamente arraigado ao negativismo da sua geração, orgulhoso, impunha-se a uma atitude renovadora. E, quando as energias lhe faltaram de todo, quando se sentiu absolutamente colado ao lodo da Terra, sem forças para reerguer-se, pediu em oração que Deus lhe estendesse mãos paternais, em tão amargurosa emergência.
No momento da aflição, ele afirmou: Ah! É preciso haver sofrido muito, para entender todas as misteriosas belezas da oração.
Foi nesse instante que as neblinas espessas se dissiparam e alguém surgiu, emissário dos céus. Um velhinho simpático lhe sorriu paternalmente. Inclinou-se, fixou nos seus os grandes olhos lúcidos e falou:
— Coragem, meu filho! O Senhor não te desampara.
O bom velhinho se chamava Clarêncio. De imediato, chamou dois companheiros que improvisaram uma maca e o levaram para a colônia “Nosso Lar” (8).
O Espírito Neio Lúcio, no livro Jesus no Lar, relata que na reunião em Cafarnaum, Bartolomeu pediu esclarecimentos a Jesus, quanto às respostas do Alto, sobre as súplicas dos homens.
Jesus, para responder, contou o caso de um missionário do bem que percorria as aldeias, acompanhado do seu cão, levando os ensinamentos celestiais. Quando anoiteceu, ele, cansado, sem identificar o caminho, implorou a proteção de Deus, e seguiu confiante.
Logo percebeu uma cova propícia ao descanso. Quando foi instalar-se com seu cão e os seus alforjes, uma grande quantidade de moscas vorazes o atacou, impedindo-o de acomodar-se, obrigando-o a retomar o caminho.
Mais adiante avistou uma ponte que dava acesso a um local plano que se assemelhava a um lençol branco. Encaminhando-se para atravessá-la, viu, com surpresa, que ela desabou, tornando-se impossível atingir seu objetivo.
O bondoso missionário tomou novo rumo, preocupado com a chuva anunciada pelos trovões. Encontrou, em seguida, uma árvore robusta, com uma grande abertura no tronco, convidando ao repouso. De repente, uma ventania muito forte derrubou o imenso tronco.
Retornando a caminhada, debaixo de chuva, avistou um casebre com tosca iluminação. Seu coração saltitou de alegria. Ao bater a porta, um homem impiedoso negou-lhe hospedagem.
Muito triste, o pregador teve que seguir em busca de refúgio. Cansado, acomodou-se em arbustos próximos à casinha que lhe havia negado asilo; o cão, amedrontado com os fortes relâmpagos e trovões, fugiu em disparada, embrenhando-se na mata escura.
Sozinho, ao relento da noite, chorou, acreditando ter sido esquecido por Deus. Ouviu gritos e palavrões que o deixaram angustiado, sem saber de onde vinham.
Ao despertar, saiu do esconderijo improvisado. Ficou sabendo por assustados camponeses que ladrões assaltaram a choupana que lhe negara abrigo, assassinando os moradores.
Observou, radiante, que a Bondade Divina o livrara dos malfeitores, afastando dele também o cão para lhe garantir a tranquilidade da noite.
Descobrindo que seguia trilha oposta à aldeia que buscava, regressou para retificar o caminho que havia perdido. Ao chegar à ponte rompida, ficou sabendo que a terra que avistara como se fosse um lençol branco, nada mais era do que um grande pântano destruidor.
Agradecido mais uma vez ao Pai pela proteção, alcançou a árvore com o tronco tombado, descobrindo que ela servia de covil de lobos.
Procurou a cova onde tentara o repouso e constatou que aquelas moscas evitaram que ele se deitasse no ninho de serpentes.
Com a gratidão infinita ao Céu, o mensageiro do bem entendeu o perfeito socorro de Deus em seu caminho (9).
Assim somos nós, fazemos planos para nossas vidas e quando não conseguimos realizá-los, blasfemamos contra Deus. A Providência Divina tem estradas onde não temos caminhos.
A oração é sempre o bálsamo que cura nossas aflições e nossas dores, do corpo e da alma, dando-nos a força de que precisamos para vencer as dificuldades do nosso destino.
Muita paz!
Notas bibliográficas:
1 – O Livro dos Espíritos – Comentários de Allan Kardec à questão nº 625.
2 – A Bíblia Sagrada – João Ferreira de Almeida – Mateus, 6, 9 a 13.
3 – Idem, ibidem – Mateus, 21, 22.
4 – Idem, ibidem – Mateus, 7, 7 e 8.
5 – O Livro dos Espíritos – Parte 3ª – Capítulo II – Q.660 – Allan Kardec.
6 – Idem, ibidem – Q. 663 – Allan Kardec.
7 – André Luiz, pseudônimo de Carlos Chagas. O médium Chico Xavier solicitou à Sra. Suzana Maia Mousinho que providenciasse com um artista plástico seu colega no Ministério da Educação e frequentador da Escola de Belas Artes, um retrato do espírito André Luiz e que, para tal, se baseasse na estátua do cientista Dr. Carlos Chagas, localizada na praia de Botafogo, na cidade do Rio de Janeiro. Após a feitura do quadro, o médium Chico Xavier escreveu em seu verso que aquele era o espírito André Luiz e o dedicou à Sra. Suzana. (Página 25, do livro S ementeira de Luz, do espírito Neio Lúcio, psicografado por Francisco Cândido Xavier) – Editora Vinha de Luz – 3ª edição – 2008.
8 – Nosso Lar – Espírito André Luiz – Psicografia de Francisco Cândido Xavier – cap. 2, 21 – 54ª edição – Feb.
9 – Jesus no Lar – Espírito Neio Lúcio – Francisco Cândido Xavier – 7ª edição – Feb.