
Da equipe do Programa Debate na Rio da Rádio Rio de Janeiro
Tema muito complexo e de reiterada reflexão é o Perdão. Certa feita, durante atendimento fraterno prestado na instituição espírita da qual faço parte, deparei-me com um caso em que uma senhora descobriu o adultério cometido pelo marido. Narrava que mesmo após a descoberta manteve o casamento, porém não o havia perdoado de todo o seu coração. Contou-me que a qualquer falta deflagrava novo conflito com o marido e trazia à tona novamente o fato ocorrido, acusando-o de forma severa. Não havia perdoado. Não havia esquecido. Percebia-se claramente que aquela esposa lesada em seus sentimentos lembrava ainda de forma amarga o fato acontecido, impedindo completamente a efetivação do perdão. E, com isso, deixava de viver, de realizar seus sonhos e desfrutar da vida conjugal ao lado do marido arrependido, atormentada que estava pelo fato da imagem viva da traição. A cada lembrança, a cada acusação que lhe fazia, era como se o fato novamente acontecesse, ferindo-a profundamente.
Narra João Evangelista, no capítulo 8, versículos 1 a 11, que Jesus ao descer do Monte das Oliveiras, retornara ao Templo para novos ensinamentos. Fora então, provocado por escribas e fariseus que lhe traziam a presença uma mulher surpreendida em flagrante delito de adultério. Relembraram a Lei de Moisés, na qual ordenava que a mulher apanhada em adultério deveria ser apedrejada até a morte. E perguntaram ao Mestre: “Tu, pois, o que dizes?”. Mas Jesus permaneceu calado e, inclinando-se, escrevia na terra com o dedo. Narra Amélia Rodrigues, pela psicografia de Divaldo Franco no livro Luz do Mundo, capítulo “Atire a Primeira Pedra”, que diversos intérpretes deste texto esclarecem que, escrevendo no chão, o Senhor grafava a marca moral do erro de cada um, que O observava fazendo que recordasse sua própria imperfeição. Por exemplo: ladrão, adúltero caluniador...
O Mestre proferiu a seguinte conclusão: "Aquele que dentre vós estiver sem erro, atire-lhe a primeira pedra...". Narra a autora espiritual que “A frase Lhe fluiu dos lábios lentamente, com segurança, nitidez, serenidade. Relata ainda que a exuberância desta passagem marcaria a “história na história”. Eles, porém, ouvindo isso, saíram um após o outro, a começar pelos mais velhos. Ele ficou sozinho e a mulher permanecia lá no meio da praça. Jesus levantou-se, perguntou onde estavam os acusadores. A mulher então lhe respondeu que não restava nenhum deles. Jesus então profere talvez a maior de todas as sentenças de absolvição, sem antes não deixar o erro cometido sem alerta, sem reprimenda: “Ninguém te condenou? Eu também não te condeno. Vai, e não peques mais”. A pecadora recebera nova chance, entretanto o alerta para que não mais voltasse a pecar. Jesus condenava ali o pecado, exonerando aquela companheira do encargo do castigo, pois logicamente encontrava nela sinais de modificação e reforma íntima.
Relata o espírito Humberto de Campos no livro Boa Nova, psicografia de Chico Xavier, “que a infeliz criatura retirou-se, experimentando uma sensação nova no espírito. A generosidade do Messias lhe iluminava o coração, em claridades vivas que lhe banhava a alma toda”. Ainda segundo Humberto de Campos, a substância evangélica do ensino inolvidável penetrou o aparelho judiciário de todos os povos, promovendo Jesus uma grande reforma na criminologia em todos os tempos.
Por fim não podemos deixar de relatar a posição do nosso mestre Jesus neste episódio. Entendemos que ele concedeu a todos nós o exemplo, através do Perdão, de que não devemos julgar e condenar nossos semelhantes, mas isso não quer dizer que seremos omissos em relação aos erros praticados, e tampouco exonerou o Mestre a lição do aprendizado.
Bibliografia:
- Dias, Haroldo Dutra. João, capítulo 8, O Novo Testamento/ tradução de Haroldo Dutra Dias. – 1. ed. 2. imp. – Brasília: FEB, 2013.
- Campos, Humberto de (Espírito). Pecado e punição. Boa Nova/ pelo Espírito Humberto de Campos; [psicografado por] Francisco Cândido Xavier. – 3. Ed. – 5. Imp. – Rio de Janeiro: FEB, 2010.
- Rodrigues, Amélia (Espírito). Atire a primeira pedra. Luz no Mundo/ pelo Espírito Amélia Rodrigues; [psicografado por] Divaldo Pereira Franco. Salvador: LEAL, 1971.
- www.feparana.com.br. Site federação Espírita do Paraná. Artigo A Mulher Equivocada.