
Passados os idos de Natal, cabe a reflexão da trajetória humana do que aguardamos para o novo ano.
Sabemos que a convenção do calendário, a qual prossegue os dias sem distinção, cria divisões, marcos no tempo, dos quais ainda necessitamos para incentivar novas atitudes de renovação, na maioria das vezes, saudável.
Segue de onde parte o instinto da mudança na entrada de novo ano, o qual nos cabe a compreensão de que velhos problemas sem solução darão curso, necessitando de espírito renovado, imbuído do trabalho e embalado pela esperança: Receita da fé.
O Natal do Cristo tem a representação da renovação, em todos os aspectos. Não à toa, demarcou a trincheira do tempo em antes e depois de Sua chegada. Contudo, a lembrança viva é a da chegada do Salvador, olvidando dos esforços necessários para Sua vinda.
Nem mencionarei a complexidade de tornar possível a encarnação de um espírito puro em um corpo terreno, já basta a análise de dos acontecimentos terrenos.
Poucos recordam que na eminência do nascimento do Mestre, Herodes, um rei sórdido, orgulhoso, apegado ao poder e corrupto, sabedor da profecia a qual afirmava ser a época do nascimento do “Rei dos reis”, ordenou o massacre de tantas mulheres gestantes e crianças, sob a insígnia da loucura, endereçada ao apego pelo poder.
Alguns ignoram que diante da calamidade do infanticídio instaurado, um Anjo se fez presente, dando a José as ordens às quais deveria seguir, para que o projeto divino não naufragasse diante da insensatez humana, inspirando o pai terreno do Cristo a, imediatamente, partir da cidade, acomodando Maria Santíssima na humilde montaria.
Na falta de luz no caminho, uma estrela os guiava; na ausência de uma estalagem, uma gruta os protegeu das intempéries do tempo; sem que houvesse um berço ao Salvador, uma manjedoura se fez de peça a acalentar o Divino enviado; na impossibilidade de panos, foi-lhe oferecida a palha para a acomodação, em cenário de perfeita comunhão com a natureza, cercado de animais a presenciar a vinda Daquele que mudaria o curso dos tempos, que traria a mensagem divina, implantaria o reino de Deus na Terra, o portador da esperança, sob os esforços da renovação.
Talvez seja esta a causa de o Natal trazer, inconscientemente, os desejos de mudanças para o ano que se aproxima. A atmosfera fluídica do orbe, modificada pela caridade de Natal, inspira a vinda de nova resposta à vida. A retomada de relacionamentos distantes, os entendimentos de antigos erros, o enfrentamento de antigas angústias da alma, a retomada das rédeas da existência, muitas das vezes perdida, arrastadas pelos acontecimentos sufocantes do cotidiano.
Infelizmente, comum nos fixarmos nos cenários espetaculares da desgraça nas conversações pessimistas, nos perdemos nos pensamentos derrotistas e de mágoa, levando às inúteis fugas da realidade através do prazer fugaz, entorpecendo ainda mais o espírito e elevando os patamares do potencial autodestrutivo, desencadeando o autoflagelo da depressão.
Muitos são os desejosos dos acontecimentos do mal, as barbáries, os assassínios espetaculares, os atos hediondos do terrorismo, os acidentes naturais a ceifar milhares de vida, a corrupção ativa, o disseminar das doenças, as guerras de longa duração, as crises econômicas globais, o descontrole da violência. Desejam as incursões à infelicidade não pelo mal causado em si, mas para justificarem o pessimismo de sempre, a ausência de esperança nos respectivos espíritos. Fixam-se em conversações infelizes, assemelhando a portais da desgraça, assistem com a máxima atenção aos noticiários infelizes, absorvem até os sentimentos infelizes das obras de fixam, revoltando a consciência até na irrealidade.
Este é o retrato do homem moderno. São necessários a retomada da vida, o controle das ações conscientes. Somente o sopro da esperança pode compor as ações necessárias e capazes de trazer o coração humano para as trilhas da renovação de sentimentos e ações.
Se o menino Jesus trouxe a esperança para tantos há 2000 anos, cabe aos cristãos modernos dar continuidade à obra, propagando os pensamentos de renovação, conduzindo a Boa Nova a tantos corações ausentes de fé. Sustentando a mensagem do Mestre, a qual o tempo não limita, na sociedade hoje abraçada pela inconformação, medo e revolta.
Tal como, no passado, tantos beberam da fonte da esperança, sob a notícia da chegada do Salvador. Cabe a nós, cristãos da modernidade, renovar a fé e propagar a Boa Nova a tantos sedentos pela alvorada do espírito, pelos testemunhos de fé.