
“Um fariseu, intérprete da lei, perguntou a Jesus:
“Mestre, qual é o grande mandamento na lei?
“Respondeu-lhe Jesus:
“— Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas” (Mateus 22, 34 a 40).
Relata a passagem evangélica que o objetivo do intérprete da lei era o de experimentar Jesus, sabendo que ele fizera calar os saduceus, e para isso, reuniram-se os fariseus em conselho, a fim de estipularem uma estratégia para aquela entrevista. E a pergunta feita implicava as leis de Moisés — o decálogo e as demais leis que constituíam a Torá, num total de 613 leis: 365 leis proibitivas – uma para cada dia do ano – e 248 leis afirmativas – uma para cada osso do corpo –, determinando o que pode ou o que não pode fazer para agradar a Deus.
Na sábia resposta de Jesus, que aproveitava todos os instantes para nos legar o ensinamento necessário para nossa suprema felicidade, sintetizou todas as leis em uma só, a mais importante, que abrange todas as demais leis, estatutos e regras: o amor.
O grande mandamento, portanto, resumindo toda a lei, todos os profetas e todos os mandamentos, é um só: o amor em três modalidades: amor a Deus sobre todas as coisas, amor a nós mesmos e o amor ao próximo como a nós mesmos.
João, o evangelista, em sua primeira epístola, no capítulo 4, versículo 8, diz: Deus é amor, e, na mesma carta, no versículo 20, afirma: “Se alguém disser: amo a Deus, e odiar a seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê”.
Quem ama, verdadeiramente, com amor total, abrangente, não mata, não furta, não trai, não adultera, não pratica o mal.
A lei de amor, a segunda revelação da lei de Deus para a humanidade, trazida e exemplificada por Jesus até o extremo de total doação, deixando-se imolar na cruz do Calvário, por amor a nós, podendo dizer, colocando-se como parâmetro:
“O meu mandamento é este, que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos. Vós sois meus amigos, se fazeis o que eu vos mando. Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor: mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer.” (João 15, 12 a 15.)
O lema do Espiritismo, conforme instrução dos Espíritos Superiores é: Fora da caridade não há salvação. O amor é essência divina, a caridade é o amor na prática. Quando o amor está em ação, ele se chama caridade, portanto, caridade é o amor em ação.
O insigne Allan Kardec perguntou aos Espíritos Superiores, encarregados de nos trazer a terceira revelação da lei de Deus: o Espiritismo, simbolizado na lei da caridade, o que consta da questão 886, de O Livro dos Espíritos:
“Qual o verdadeiro sentido da palavra caridade, como a entendia Jesus?”
E recebeu como resposta:
“Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas.”
E Kardec, Espírito Superior, escolhido por Jesus para receber de seus pares, do mundo espiritual, a revelação, comenta a questão:
“O amor e a caridade são o complemento da lei de justiça, pois amar o próximo é fazer-lhe todo o bem que nos seja possível e que desejáramos nos fosse feito. Tal o sentido destas palavras de Jesus: Amai-vos uns aos outros como irmãos.”
“A caridade, segundo Jesus, não se restringe à esmola, abrange todas as relações em que nos achamos com os nossos semelhantes, sejam eles nossos inferiores, nossos iguais, sejam nossos superiores. Ela nos prescreve a indulgência, porque de indulgência precisamos nós mesmos, e nos proíbe que humilhemos os desafortunados, contrariamente ao que se costuma fazer. Apresente-se uma pessoa rica e todas as atenções e deferências lhe são dispensadas. Se for pobre, toda a gente como que entende que não precisa preocupar-se com ela. No entanto, quanto mais lastimosa seja a sua posição, tanto maior cuidado devemos pôr em não aumentarmos o infortúnio pela humilhação. O homem verdadeiramente bom procura elevar, aos seus próprios olhos, aquele que lhe é inferior, diminuindo a distância que os separa.”
Precisamos treinar a mente, que é o espírito imortal, na prática do amor. A gente aprende aquilo que faz. Treinar o amor a Deus, respeitando-O por meio de Sua criação, amando tudo o que existe, como nos ensinou o grande missionário Albert Schweitzer, com a sua filosofia Veneração pela Vida: o mineral, o vegetal, o animal e o hominal. Despertar pela manhã, ou a qualquer hora do dia, agradecendo-O pela dádiva da vida.
Amar a nós mesmos, de todas as formas: material, espiritual e intelectualmente. Amar a nós mesmos, no sentido de nos aceitarmos, sendo felizes da forma que somos e da forma que vivemos, amando e servindo aos semelhantes, sem manifestação de egoísmo, que é, no dizer do sábio e amoroso Emmanuel, no livro Vinha de Luz, na lição 76: “hipertrofia congênita do eu”.
Buscar educar os nossos sentimentos treinando a humildade que é a principal virtude para a nossa transformação moral, lembrando a lição de Allan Kardec: “Reconhece-se o verdadeiro espírita por sua transformação moral e pelos esforços que faz por domar as suas inclinações más”.
Como afirmou Jesus ao fariseu, em epígrafe, o amor ao próximo como a nós mesmos é um sentimento semelhante ao amor a Deus.
A caridade material consiste em assistir às necessidades do nosso próximo como se estivéssemos suprindo a nós mesmos. Quem tem fome, quer comer, quem sente frio precisa de agasalho. Devemos auxiliar com amor e com boa vontade. Quem dá com irritação, somente para se livrar do pedinte, falta à verdadeira caridade.
O perdão é a maior manifestação de amor ao próximo e a nós mesmos. Quem guarda mágoa, não esquece a injustiça e a ingratidão, não pode ser livre e feliz.
A caridade moral pede também que tenhamos tolerância para com as imperfeições dos outros e paciência com nossas limitações.
O amor foi cantado da forma mais linda e incomparável por Paulo, o grande apóstolo dos gentios, o “vaso escolhido” por Jesus para divulgar seu Evangelho, em sua Primeira Epístola aos Coríntios, no capítulo 13, intitulado:
O amor é o dom supremo
“Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine.
Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé ao ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei.
E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres, e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitará.
O amor é paciente, é benigno, o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
O amor jamais acaba; mas, havendo profecias, desaparecerão; havendo línguas, cessarão; havendo ciência passará”.
Muita paz!