
Desde as mais remotas eras, foi-nos apresentado pela nossa Doutrina, iniciantes criaturas em estado natural, como em estado primitivo e transitório, ponto de partida para o nosso desenvolvimento intelectual e moral, de acordo com a lei natural universal de evolução. Traçamos nossa caminhada à medida que conquistamos entendimento.
Tão logo tenhamos atingido a condição de seres pensantes, possuidores de discernimento e consciência contínua, nosso livre-arbítrio decide o rumo de nossa caminhada. Isto se acha subordinado à lei natural, divina, que rege toda a Criação e promove, por sua ação e efeitos, o melhoramento das criaturas, desde o momento em que estas a compreendem e praticam.
A evolução faz arte de nossa própria natureza, no Universo, em toda a Criação. Em parte se realiza pela “força das coisas”, expressão sempre empregada por Allan Kardec exatamente para definir aquilo que independe da ação do homem; e em parte, por interferência do próprio homem em seu quadro evolutivo, quer por necessidade, quer por tomada de consciência.
Por necessidade, quando busca condições para melhoria de situações físicas e materiais; por tomada de consciência, quando entende que se faz mister realizar conquistas intelecto-morais no campo das relações humanas.
Assim, três são os elementos básicos que concorrem para a evolução humana:
1) o plano biológico necessário à sobrevivência, como por exemplo, o clima, a topografia, os recursos de alimentação;
2) o plano social, ao se tratar de costumes, tradições, exigências face à competição, e,
3) o plano intelectual , quando da aquisição de novos conhecimentos e cultura.
Pode-se inclusive citar alguns exemplos: biologicamente, o fraco se modifica com cuidados físicos, ginástica, atletismo;
socialmente, o rude, em melhores ambientes pode tornar-se mais sociável, adquirir boas maneiras;
e intelectualmente, o ignorante, com estudo e vontade de adquirir conhecimentos. Entretanto, tudo isso significa apenas evolução exterior, sem reflexo no íntimo da criatura.
Na visão espírita, o espírito terá que progredir em conhecimento e moral; ambos caminhando lado a lado, necessariamente – nisso reside a transformação profunda e não somente a superficial, aparente... A evolução é genérica – o progresso é individual, dependente da livre escolha e por isso requer vontade firme e desejo sincero de melhorar-se.
O Espiritismo nos demonstra a reencarnação como o meio mais justo e eficaz de aprendizado e progresso, com oportunidades ilimitadas por sermos espíritos imortais. Fomos criados simples e ignorantes, mas com extensas potencialidades e faculdades, ainda pouco conhecidas da maioria de nós e inumeráveis situações para desenvolvê-las. Todos trazem a semente do senso moral, sem exceções, sem privilégios – todos necessitando passar por experiências diversas, no plano físico e extrafísico, para exercitar o livre-arbítrio.
De posse dessa liberdade de escolha, já possuindo discernimento, o espírito conquista responsabilidade. Não foi por acaso que utilizamos o verbo conquistar: Kardec, na Revista Espírita de março de 1869 nos esclarece:
“Com o ser espiritual independente, preexistente e sobrevivente ao corpo, a responsabilidade é absoluta (...) provar que o homem é responsável por todos os seus atos é provar a sua liberdade de ação, e provar a sua liberdade, é provar a sua dignidade.”
Portanto, é preciso que passemos a encarar a responsabilidade não como um peso, mas como uma imprescindível ferramenta para o nosso progresso espiritual.
A reencarnação comporta uma programação, originando um determinismo “relativo” porque “determinismo não é fatalismo”, de vez que está intimamente ligado com o nosso livre-arbítrio, como nos assegura Deolindo Amorim.
Continuando com os esclarecimentos desse espírita tão lúcido e esclarecido, acrescentemos: “Daí, finalmente, a necessidade, às vezes, de se fazer uma distinção entre evolução e progresso. Evolução, por si mesma, estende-se a todas as latitudes. Progresso é um ideal de melhoramento, o que deve ser, mais cedo ou mais tarde, pois é o alvo maior da vida humana ” (livro Análises Espíritas).
Concordamos, considerando-se todo o ensinamento recebido, particularmente o que nos chegou pela Doutrina dos Espíritos, que esse trabalho milenar e esse burilamento muitas vezes doloroso, realizado à custa de muito esforço e sofrimento, têm como finalidade máxima levar-nos a
“sermos deuses, fazermos tudo que ele fez e muito mais” (Jesus), no momento em que permitirmos
“deixar brilhar a nossa luz”(Jesus)– enfim realizarmos, da melhor maneira possível a cada um, a grande jornada
“do átomo ao arcanjo”(LE Q. nº 540).