
No terceiro dia, após a crucificação, “Jesus, o nosso Divino Mestre e Herói do Túmulo Vazio”, no dizer de Emmanuel, no livro Religião dos Espíritos, psicografado por Chico Xavier, aparece aos discípulos, no interior da casa onde estavam reunidos, em Jerusalém, com as portas fechadas, por medo dos judeus, e dá uma mensagem de paz, numa doce e suave saudação: Paz seja convosco!
Quantas vezes gostaríamos de dar essa mensagem de paz, seguindo o Divino Modelo, mas não conseguimos porque somos turbulentos e convencionais. Dizemos: bom dia! boa tarde! Boa noite! Até logo! Ou até já! E, talvez, nem voltaremos a nos ver.
Há também uma expressão que usamos a mancheias: Saúde e paz, o resto a gente corre atrás! Entretanto, elas não vêm até nós por sorteio. Não são elas que nos escolhem. Se queremos saúde e paz, temos de construí-las, cuidando do nosso corpo, empréstimo de Deus, e da nossa mente, que é o espírito imortal, por meio da disciplina e da autoeducação. Não estamos prontos. Estamos em gestação no seio da natureza. Seremos o que fizermos de nossas vidas, em constante construção.
Nos portais da entrada do Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro, há uma inscrição latina: Si vis pacem, para bellum — Se queres a paz, prepara-te para a guerra. É uma expressão guerreira, do século V, atribuída a Publius Flavius Vegetius Renatus, sugerindo que a paz deve ser conseguida através da força.
É um absurdo, no século XXI, usarmos como modelo uma estratégia bélica do século V, quando buscamos a paz. O lema deve ser: Si vis pacem, para pacem — Se queres a paz, prepara-te para a paz.
Certa feita os repórteres perguntaram ao Mahatma Gandhi:
— “Senhor Gandhi, qual o caminho para a paz”?
Ele respondeu:
— “O caminho para a paz? A paz é o caminho”.
Precisamos treinar a paciência — a ciência da paz —, para suportar as adversidades; as agressões que surgem de toda a parte, e que muitas vezes nos surpreendem; os obstáculos, as contrariedades. Precisamos treinar a tolerância para aceitar as imperfeições dos outros, porque, muitas vezes, nos irritamos por querer que as pessoas pensem como nós e que, em nosso orgulho, nos julgamos possuidores das atitudes corretas.
O Espírito Neio Lúcio, no livro Jesus no Lar, psicografado por Chico Xavier, na lição 12, narra a cena da palestra na residência de Simão Pedro, sobre o livro de Jó, em que enfatizavam sua paciência, famosa na história da Bíblia e a fidelidade ao Pai Todo Bondoso.
Diante da vibração de alegria em todos os semblantes, Jesus, bem-humorado, contou que havia na cidade de Nínive um homem tão fiel a Deus que todo o povo lhe rendia elogios à sua conduta, ao ponto de esses louvores subirem ao Todo Poderoso, por intermédio de vários arcanjos, que pediam sua transferência para o Céu.
A Divina Sabedoria determinou que ele fosse analisado na esfera da carne e os Anjos Educadores, a serviço do Altíssimo, enviaram à terra quatro rudes descobridores de homens santificados: a Necessidade, o Dinheiro, o Poder e a Cólera, cada qual a seu tempo para efetuarem as provas indispensáveis.
“A Necessidade se fez sentir de vários modos, dando privações, obstáculos, doenças e abandono de entes amados”; contudo, o devoto encheu-se de compreensão e firme, nas virtudes, venceu-a.
Chegou a vez do Dinheiro, que conferiu fartura de todo o tipo. Os recursos eram imensos e as considerações sociais de máximo valor. Entretanto, o disciplinado e fiel candidato ao céu, lembrou-se da caridade, entendendo que somos usufrutuários dos bens, que pertencem a Deus, e distribuiu moedas e patrimônios em “multiplicadas obras do bem, conquistando o equilíbrio financeiro e a veneração geral”.
“Vitorioso na segunda prova, veio o Poder, que o investiu de larga e brilhante autoridade. O devoto, contudo, recordou que a vida, com todas as honrarias e dons, é simplesmente empréstimo da Providência Celestial e usou o Poder com brandura, educando quantos o rodeavam, por intermédio da instrução e do trabalho bem orientados, recebendo, em troca, a obediência e a admiração do povo entre o qual nascera.”
“Triunfante e feliz, o crente foi visitado, enfim, pela Cólera. De maneira a sondar-lhe a posição espiritual, a instrutora invisível valeu-se dum servo fraco e ignorante e tocou-lhe o amor próprio, falando com manifesta desconsideração, em assunto privado que, embora expressão da verdade constituía certo desrespeito a qualquer pessoa de sua estatura social e indiscutível dignidade.”
“O devoto não resistiu. Intensa onda sanguínea lhe surgiu no rosto congesto e ele se desfez em palavras contundentes, ferindo familiares e servidores e prejudicando as próprias obras. Somente depois de muitos dias, conseguiu restaurar a tranquilidade, quando, porém, a Cólera já lhe havia desnudado o íntimo, revelando-lhe o imperativo de maior aperfeiçoamento e notificando ao Senhor que aquele filho, matriculado na escola de iluminação, ainda requeria muito tempo, na experiência purificadora, para situar-se nas vibrações gloriosas da vida superior.”
Jesus, com alegria transbordante, conclui a história, dizendo que o ser humano não é o que aparenta ser. Na hora do teste, é reprovado em sua resistência moral, nos vários aspectos da vida necessários à evolução, e que “raríssimos são aqueles que vencem a visita inesperada da Cólera, que vem ao círculo do homem anotar-lhe a diminuição do amor próprio, sem o qual o espírito não reflete o brilho e a grandeza do Criador, nos campos da vida eterna”.
É necessário afirmar que Jesus nunca se irou. Como podemos imaginar o modelo de mansidão, que veio implantar na Terra a segunda Lei de Deus, a Lei do Amor, usar de violência, mesmo que fosse apenas um quantum de pensamento? O episódio bíblico da expulsão dos vendilhões do templo aconteceu para cumprir as palavras profetizadas por Jeremias 7:11: “A minha casa será casa de oração; mas vós a fizestes um covil de salteadores”. Porém, Jesus não chicoteou ninguém, não espancou ninguém, nem mesmo os animais. Não usou nenhuma forma de violência derrubando as mesas dos mercadores. Usou o azorrague moral, o seu poder magnético, que fez com que o comércio se desfizesse, com a evasão dos cambistas.
Somente Jesus, o Cristo de Deus, podia fazer a afirmação que fez no convite endereçado a todos nós, necessitados que somos de amor, de carinho, de luz e de paz:
— “Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”.
Sua pureza e perfeição foram descritas por Allan Kardec no comentário da questão 625, de O Livro dos Espíritos: “Jesus constitui o tipo da perfeição moral a que a Humanidade pode aspirar na Terra. Deus no-lo oferece como o mais perfeito modelo, e a doutrina que ensinou é a expressão mais pura da lei do Senhor, porque, sendo ele o mais puro de quantos têm aparecido na Terra, o Espírito Divino o animava.”.
Muita paz!