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Artigo do Jornal: Jornal Junho 2013

Sobre o autor

Cláudio Sinoti

Cláudio Sinoti

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machismo    Nada obstante aos avanços sociais observados nos últimos tempos, e especificamente o aumento da participação feminina em áreas onde os homens predominavam, quando não eram exclusivos, infelizmente ainda verificamos na atualidade comportamentos machistas herdados de várias gerações, nas quais a mulher foi sendo relegada.
    Herança atávica do período no qual a força física tinha prevalência, destituída de bom senso e de sensibilidade, nossa cultura, de um modo geral, construiu seus alicerces na força e na razão fria e calculista. Em um profundo estudo sobre a temática, Joanna de Ângelis 1 nos recorda que isso provém desde o Mito da Criação, que apresentando o surgimento de Eva a partir da costela de Adão, e tendo ela o induzido a trair a confiança de Deus, como punição deveria ser submissa ao homem e seria responsável pela culpa ancestral.
    De certo modo, esse alicerce mitológico passou a predominar no inconsciente coletivo, e as mulheres passaram à condição de servas: do prazer e das tarefas mais humilhantes e extenuantes. O problema é que todo aspecto, pessoal e coletivo, que não tem autonomia e participação, fica subdesenvolvido e forma a nossa sombra. Na questão em pauta, a falta de autonomia e participação do feminino ajudaram a formar o masculino autoritário e brutal dos nossos dias, permanecendo na sombra os importantes aspectos que o feminino representa: sensibilidade, espiritualidade, afetividade etc.
   E isso foi sendo incorporado aos diversos campos do conhecimento, assim como das religiões, nada obstante as nobres exceções que a história registra, de mulheres que enfrentaram a sombra coletiva e demonstraram sua grandeza. Na Bíblia, por exemplo, nos deparamos com as rigorosas e ultrapassadas declarações de Paulo a respeito da mulher; Agostinho de Hipona chegou a declarar: "estou convencido de que nada afasta mais o espírito do homem das alturas do que os carinhos da mulher..." Também a psicologia não deixou de ser influenciada pela visão masculina unilateral, tendo Sigmund Freud apresentado a teoria no mínimo lamentável de que as mulheres teriam inveja do órgão sexual masculino. Nada obstante devam ser contextualizados esses exemplos, e sem diminuir o valor desses expoentes, eles demonstram a visão limitada a respeito da importância e valor da mulher e do feminino que foi sendo culturalmente construída.
    O Espiritismo, por sua vez, nos revela que, na condição de espíritos2, reencarnamos nas duas polaridades, e que em ambas temos características importantes a desenvolver. Não encontrando na cultura o respaldo para desenvolver e aprimorar esses aspectos necessários ao nosso crescimento, nosso próprio desenvolvimento fica comprometido.
    A psicologia analítica proporcionou um avanço considerável sobre a questão, identificando que o homem e a mulher possuem em seu inconsciente as polaridades opostas. O homem possui sua Anima – a parte feminina do seu ser – e a mulher possui seu Animus – sua porção masculina. Para alcançar a plenitude, que Jung chamava de individuação, seria necessário harmonizar-se com essa parte oculta, Anima-Animus, e desenvolver com harmonia nossa personalidade como um todo, em seus aspectos masculinos e femininos.
    E não podemos esquecer que, na condição de Mestre, Jesus foi o perfeito exemplo daquele que transitou com harmonia entre as polaridades masculina e feminina. Quando necessário, seus discursos e atitudes eram portadores da energia e força Animus, exemplificado nos seus famosos Ais, condenando a hipocrisia vigente. Sua Anima, entretanto, acolhia com amorosidade comovente todos os sofredores, erguendo a mulher esquecida daquela sociedade arbitrária, e dando a ela oportunidade de demonstrar o seu valor.
E quando a mulher ganha espaço em nossa vida social, que não seja apenas para imitar os modelos antiquados e ultrapassados construídos pelos homens, mas para dar a sua valiosa contribuição no mundo novo que precisamos urgentemente construir, e que necessita do feminino para crescer em beleza, espiritualidade e amorosidade, modificando as paisagens violentas dos dias atuais.
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